Judeus no mundo

INGLATERRA


No ano de 1066, Guilherme, O Conquistador, comandando os exércitos normandos, invadiu as terras inglesas, mudando o curso do país. Havia presença judaica na Inglaterra nos tempos do domínio anglo-saxão ou mesmo romano, mas as comunidades eram pequenas e desorganizadas. No entanto, com a nova administração franca do século XI, essas foram fortalecidas com uma grande imigração por parte dos judeus franceses, italianos e alemães que procuravam uma moradia salva do anti-semitismo.

 

A partir deste ponto, a história anglo-judaica começa a ter importância para o país, pois adotaram como principal atividade profissional a usura, tornando-se, assim, agentes importantes na economia. Obrigados a pagar grandes quantias de dinheiro ao governo, os judeus trabalharam como agente crucial para o desenvolvimento: quanto maior a riqueza judaica, mais a Inglaterra lucrava. Esta relação entre o povo e o governo gerou famosas histórias com a de Aaron de Lincoln, um homem abonado que contribuiu com seu governo até o fim da vida, quando teve todos suas posses confiscadas. A mansão de Aaron resiste até hoje.

 

O século XII foi relativamente seguro para os judeus britânicos, diferentemente da situação dos mesmos do restante da Europa: foi neste século que ocorreu a Primeira e a Segunda Cruzada. No entanto, a vida do judeu na Inglaterra começou a piorar a partir deste momento. O primeiro ato anti-semita em maior escala ocorreu no ano de 1144, em Norwich, no qual a população judaica local foi acusada de assassinar um menino em um ritual. A acusação foi feita pela população, mas as autoridades não levaram aos tribunais.

 

Em seqüência a este acontecimento, a situação do povo de Israel se deteriorou drasticamente nos domínios britânicos. É tido como importante marco na história do anti-semitismo inglês o reinado de Ricardo I, Coração de Leão. Em 1189 uma delegação de autoridades judaicas foi proibida de assistir a coroação do rei, o que ocasionou a morte de 30 judeus inconformados com a situação. Assim começou o governo do rei anti-semita que aderiu fortemente à causa da Terceira Cruzada.

 

Antes de partir rumo a Jerusalém, as tropas designadas para a Cruzada varreram o território a procura das comunidades judaicas para exterminá-las. As cidades de Lynn, Bury St. Edwards, Lincoln e Norwich tiveram seus judeus obrigados a se batizarem ou morrerem assassinados.

 

A caça anti-semita do século XII teve seu auge no episódio de York, onde aproximadamente 150 judeus, incluindo mulheres e crianças, se refugiaram em um castelo para se proteger da turba enfurecida incitada pelo exército. Muitos destes judeus praticaram o suicídio em nome de D’us para não ter de aceitar a conversão forçada.

 

No ano de 1290, Eduardo I, até então rei da Inglaterra, expulsou todos judeus de seu reino e confiscou todos os seus bens. Não se sabe ao certo a população judaica na Inglaterra na época, mas os números variam de 4.000 a 16.000 indivíduos. O exílio dos judeus ingleses durou 365 anos.

 

Durante os mais de três séculos e meio de exílio, judeus habitaram secretamente as terras britânicas sob constante necessidade de esconder sua verdadeira identidade. Comunidades inteiras de marranos refugiados da Península Ibérica cresceram e mantiveram o judaísmo graças à influência de famílias ricas simpatizantes com o judaísmo ou, ainda mesmo, famílias convertidas.

 

Este período em que o judaísmo se manteve clandestino abrigou diversas personalidades importantes e marcantes para a história, como Hector Nunes, que mantinha uma sinagoga em sua casa e previu o ataque espanhol à frota inglesa, e Rodrigo Lopes, que possuía o cargo de medico real e foi alvo de diversas intrigas políticas.

 

Em 1640, começa a guerra civil chamada de Revolução Puritana, onde as forças do parlamento, lideradas por Oliver Cromwell, confrontam as tropas reais. O exército puritano era apoiado por famílias judaicas de grande influência e, com a vitória dos mesmos, alguns judeus contribuintes foram aceitos como cidadãos oficiais da Inglaterra, podendo inclusive manter sua religião verdadeira.

 

A admissão dos judeus na Inglaterra aconteceu após a junção de interesses políticos e religiosos. A religião ajudou, pois, no século XVII, tanto judeus quanto cristãos ansiavam a vinda do Messias. O lado judeu acreditava que para a chegada do mesmo, a dispersão do povo de Israel pelo mundo deveria ser efetiva. Enquanto os puritanos acreditavam que a volta de Jesus dependia da conversão judaica e que o convívio os assimilaria. Politicamente, a admissão foi realizada, pois conversos mantinham importantes cargos administrativos no governo de Cromwell e este devia favores a famílias marranas que contribuíram para a Revolução Puritana

 

Liderados pelo Rabi Menasseh ben Israel, a comunidade judaica insistiu com petições e projetos de sinagogas para que a admissão judaica fosse oficial, no entanto, esta se mostrou um processo lento e somente em 1698, quando o governante da Holanda, Guilherme de Orange, invade o país sob pedido do parlamento, que pretendia depor a monarquia católica que tomara o poder após a queda dos puritanos, uma lei reconhece oficialmente a estadia de judeus e a prática livre da religião em território britânico.

 

De 1753 em diante, a comunidade judaica cresceu e gerou personagens pródigos como Sir Moises Montefiore, cavaleiro nomeado pela rainha Vitória, o barão Isaac Lyon Goldsmid, Lionel de Rothschild que foi o primeiro judeu em um cargo administrativo importante (Câmara dos Comuns) e o primeiro-ministro Benjamin Disraeli. Em 1904, a comunidade somava aproximadamente 250 mil judeus.

 

Na Primeira Guerra Mundial, um quarto da população judaica foi à guerra e quase 10.000 morreram. Paralelamente a isto, movimentos sionistas brotaram e ganharam força entre os intelectuais e jovens judeus ingleses.

 

De 1930 a 1950, o fascismo europeu modificou a vida dos britânicos. Cerca de 130 mil judeus emigraram pra a Inglaterra, oriundos da Alemanha, do Leste europeu e, em menor escala, de outras regiões. A guerra também teve outras conseqüências, como a evacuação das cidades, o que criou comunidades temporárias nos refúgios.

 

Uma fagulha de anti-semitismo tomou força quando a comunidade judaica se defrontou com o governo após a escritura da Carta Branca de 1939 que restringia a imigração judaica para a Palestina. A situação só se acalmou após o governo britânico se reconciliar com as autoridades judaicas e restabelecer o debate.

 

Hoje em dia a Inglaterra abriga uma das comunidades mais respeitáveis do mundo e é um importantíssimo centro cultural para o judaísmo. Somente em Londres, estima-se que há mais de 350 mil judeus residentes e importantes instituições como a yeshiva de Gateshead.